sábado, 25 de fevereiro de 2017


                                    Brooklyn Lefebvre Point Of View.
New York City, Cobble Hill, 06:00 PM.
— Senhora. — Com a voz baixa e os ombros encolhidos, chamei a mulher que estava parada em minha frente. Ela parecia estar bem concentrada na vitrine da mais nova loja de bolsas importadas que tinha sido aberta na Times Square. 
Ela se virou com as sobrancelhas arqueadas e eu pude perceber que ela era bem bonita, morena, esguia, com grandes olhos verdes, esses grandes olhos que me encaravam com nojo.
— Será que você tem alguns trocados para me dar? Eu estou com fome, à dias não como nada. 
Sua expressão mudou para uma divertida.
— E eu tenho cara de quem faz caridade? — Revirou os olhos e voltou a olhar a vitrine.
Ela não me deu escolha. 
Respirei fundo, e em um segundo de coragem puxei sua bolsa e comecei a correr. 
— Socorro! Aquela mendiga furtou minha bolsa! Alguém pegue ela. — Ouvi ela gritando longe de mim, agradeci a todos os deuses pelo tamanho do salto daquela mulher, ela não viria atrás de mim nem se quisesse. 
Mas com minha sorte, sabia que a polícia iria chegar rapidamente. Então eu aumentei o passo, entrava no meio da multidão de pessoas esbarrando na maior parte delas. Corri até meus pulmões implorarem para que eu parasse. E ao sentir que estava à uma distância segura, comecei a caminhar controlando minha respiração.

Sorri aliviada ao perceber que não estava mais na parte nobre de New York, e sim no Bronks
Escondi a bolsa dentro do meu casaco que chegava aos meus joelhos. Aqui eles levam o ditado "Ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão." bem a sério.
Não demorou muito e eu cheguei ao beco onde eu vivia. Ficava a esquerda de uma rua não tão movimentada, era bem estreito, com paredes de tijolos vermelhos cobrindo as laterais. Não tinha muito, apenas um colchão jogado e alguns cobertores, que no inverno eram o mesmo que nada, não posso dizer que tenho o mínimo de conforto. Me sentei ali e abri a bolsa daquela mulher.
Havia escovas de cabelo, maquiagens, óculos de grife e uma carteira. À puxei e comecei a contar o dinheiro que havia ali dentro. 
Mil dólares - Dei o maior sorriso do mundo.
Eu não costumo roubar, juro. Apenas nas épocas que não consigo sustentar sozinha os meus vícios. 
Já faz sete dias. Sete dias em que eu não cheirei nada e nem dei uns bons goles. Não conseguia mais dormir, mal piscar os olhos, estava delirando, paranóica e me sentia cada vez mais estressada. 
Escondi a bolsa no meio das minhas coisas e sai do beco. Era um lugar miserável. Bem diferente de onde eu vivia a um ano atrás, as crianças tinham olhares tristes e roupas rasgadas, os pequenos comércios que haviam ali era quase desertos, as ruas eram esquecidas pelo governo com sujeira para todos os lados e lodo nas laterais das casas. Estávamos início do inverno e eu ainda era uma das poucas sortudas que tinha um casaco quente o suficiente para suportar o frio. 
Comecei a andar a procura de Brad, era comum encontrá-lo no Precinct 41, o ponto de compra e venda de drogas do bairro. Não que a polícia não soubesse, eles apenas não de importavam mais, o Bronks é uma região perdida, os moradores costumam dizer que aqui não existem leis ou regras. Caminhei com dificuldade, eu estava muito fraca, não estava mentindo ao dizer que não comia à dias mas tudo que eu colocava na boca vomitava. Sabia que se continuasse assim, iria morrer, ou de overdose, ou de fome, então tive que arrumar uma maneira de ter o que meu cérebro implorava.
Cheguei até Precinct 41 e andei a procura de Brad, que estava apoiado em uma árvore fumando com seus "amigos". Me aproximei e ele deu um sorriso enorme.
— Olha só, Brooklyn. Achei que nunca mais viria me ver. — Ele sorriu e tentou me abraçar, mas eu dei paços pra trás me esquivando. Não que Brad seja feio, ele era um homem bonito, com uns vinte e seis anos, alto, com cabelos pretos jogados pro lado e olhos verdes mas todos sabem, Brad é cínico, perigoso, é pura estupidez se aproximar dele.— O que vai querer?
— Coca e vodca, preciso de muito dos dois.— Ele sorriu.
— Acho engraçado você sempre vir a mim procurar bebida, não é algo ilegal. 
— Eu tenho dezenove anos, para mim é ilegal. Vai me dar ou não? - Perguntei sem paciência, sentia meu corpo pinicar de ansiedade. 
— Quanto você tem? 
— Mil dólares.— Sua expressão mostrava que ele estava impressionado.
— Isso é bastante dinheiro, Brook. Que tal heroína? 
— Tudo bem. — Logo depois ele saiu para pegar o que eu queria. 
Depois de uns quarenta minutos ele voltou, com um cigarro em seus lábios rosados e me entregou um saco preto com o que eu pedi. Lhe entreguei o dinheiro. 
— Cuidado para não ter uma overdose, isso é droga pra caralho. 
— Eu sei me cuidar. — Disse simples e ele riu. 
— Tenho certeza que sim.— Ele fez um sinal, oferecendo o cigarro que estava em sua boca, o peguei e dei apenas uma tragada, cigarro barato nunca foi o meu favorito.
Sem me despedir dei meia volta e comecei a andar em direção ao beco, agora bem mais rápido, meu sangue borbulhava, minha boca estava seca implorando por aquilo.
Cheguei praticamente correndo abri as sacolas e puxei uma garrafa de vodca e ao abrir e virei o máximo de bebida que consegui aguentar, minha garganta queimava mas eu me sentia muito melhor, quando percebi já havia virado a garrafa inteira de uma só vez, saboreava o gosto do álcool passando a lingua em meus lábios, respirei fundo e joguei o objeto de vidro pra longe. Fiz um coque desajeitado em meus cabelos e joguei o primeiro pino de cocaína na palma da mão, aproximei minha cabeça e inalei todo o pó rapidamente. 
Me joguei no colchão sorrindo. Meu coração batia a mil por hora, eu nunca havia ficado tão feliz, eufórica! Mas uma garrafa de vodca não faria nenhum problema, não é mesmo? Peguei uma garrafa e me levantei tomando em grandes goles e saboreando o gosto forte. Eu dava risadas sem motivo enquanto girava sem parar, bebi mais mais e mais até cair no chão.
A sensação da bebida rasgando minha garganta era magnífica! Como se eu estivesse sendo completada. Adorava a sensação da minha cabeça girando, com a euforia e a tontura.
Uma pena esse efeito não durar para sempre.
Brooklyn, vamos, juro que vai ser divertido! Você não tem nada a perder
Ouvi a voz de Lissa
.
Minha expressão mudou drasticamente, eu já deveria saber o que me esperava depois do efeito da droga, bebi ainda mais vodca, implorado à "voz" para que parasse. 
— Brook? O que você pensa que está fazendo? Brooklyn para! Pelo amor de deus.— Lissa gritava em meio a lágrimas.
Meu rosto estava molhado, e meus olhos ardiam. Ouvi o barulho das sirenes.
Eu não fiz nada! procurei mais um pino de cocaína, minha visão estava escura e eu comecei a ter espasmos pelo corpo, dessa vez joguei o pó no chão sem me importar e inalei o mais rápido que pude.
— Essa não foi a filha que eu criei! Brooklyn como você pode! Eu fiz tudo certo. — Mamãe chorava, gritava, nunca havia visto tão descontrolada — Nunca mais apareça aqui, eu odeio você. Brooklyn apodreça no inferno!
— Para. Para. Para.— Implorava a mim mesma as lágrimas começaram a surgir apertei minhas mãos na minha cabeça. Eu era uma louca.
Inalei o restante que sobrava no chão e comecei a me sentir um pouco melhor. Com medo daquele sentimento voltar injetei heroína nas veias e apaguei.
                                
Acordei no dia seguinte. Não fazia ideia de que horas eram, nem do que eu tinha usado ontem. Apenas sabia que eu estava mal, muito mal. Meu estômago estava dolorido, sentia o revirar e não pude evitar um vômito que veio sem aviso molhando meu cabelo e sujando todo o chão.
Que merda! 
Peguei uma garrafa de vodca e bebi um pouco antes que colocá-la dentro do meu casaco. Olhei para a bolsa de grife e imaginei que não seria muito difícil vendê-la para Brad, então também a levei comigo.
Comecei a andar lentamente, minha cabeça doía como se eu estivesse levando marteladas. Demorei cerca de uma hora até chegar no centro da cidade. Me encostei em um comércio fechado a espera que alguma alma caridosa me desse algo para comer. 
Passei toda o dia ali, sentada, algumas pessoas passavam me davam uns trocados e durante o horário de almoço um senhor de idade me deu um sanduíche e murmurou uma oração, para que eu conseguisse "sair dessa.". No momento estava quase escurecendo resolvi ir a procura de Brad. Acabei descobrindo por um conhecido que Brad não estava no Bronks e sim, em East Village, um bairro rico e cercado de bons bares. Mas, infelizmente, ficava bem longe. 
Coloquei a mão no meu bolso e comecei a contar os trocados que eu tinha ganhado hoje. Sete dólares. Daria para pegar um metro na ida mas precisaria da grana da bolsa para voltar. 
Segui indo até o metrô, em uns quinze minutos já me encontrava descendo as escadas. Comprei meu bilhete e aguardei.
Puxei a garrafa de vodca e discretamente dei mais alguns longos goles. E logo, entrei no vagão.
Encostei minha cabeça na parede e esperei que meu destino chegasse. 
— Com licença senhor, pode me informar que horas são? — Perguntei para um funcionário do metro. 
— Dez e trinta e sete. 
O agradeci e segui caminho procurando Brad ou qualquer um de seus amigos.
Andei bastante até chegar a frente de um bar onde avistei de longe seus olhos verdes. 
Me aproximei receosa. Algo me dizia para não ir até lá, puff, como se eu tivesse escolha. 
— Brad! — Gritei chamado a atenção. — Será que posso falar com você por um instante? 
Os garotos ao redor de Brad o olharam com um sorriso malicioso, revirei os olhos. Brad concordou e me seguiu até o outro lado da rua visivelmente embriagado. 
— O que quer comigo gatinha?
— Esse apelido é tão tosco, mas enfim, eu quero te vender uma coisa. 
Peguei a bolsa e coloquei em suas mãos.
— É uma Prada, você consegue uns quatrocentos dólares nela.
— Uau! — Ele disse admirando a bolsa rosa claro. — É original? 
— Claro que sim. 
— Eu vou ficar. — Brad disse embolando as palavras. 
— Ok. Eu quero cem dólares nela. 
Brad riu.
— Disse que vou ficar, não que iria comprar de você.— Havia um sorriso estampado em seus lábios.
— Você está ficando louco, Brad? — A malandragem das ruas não era uma novidade para mim, mas Brad não podia fazer isso comigo! 
— Louca é você de achar que eu iria pagar por isso, adoro fazer negócio com você. — A irônia na sua voz me irritou.
— Brad, me entrega essa bolsa. 
Tentei puxar a bolsa de suas mãos, mas ele era bem mais forte que eu. Num movimento rápido dei um chute com toda minha força em suas partes íntimas, ele gritou e se encolheu me dando a chance perfeita para cuspir em seu rosto e sair correndo com a bolsa pro mais longe que eu conseguia.
Não conhecia o bairro, então corri em ruas aleatórias a fim de deixar a busca de Brad por mim ainda mais difícil. Não consegui correr muito rápido, nem por muito tempo, eu estava tão fraca que sentia minha visão escurecer sempre que eu tentava ir mais rápido.
Mas algo, ou melhor, alguém dizia que eu não estava no caminho certo. 
— Como você é idiota, Brooklyn.— Sua voz grossa falava atrás de mim. Eu tentei correr, claramente foi inútil. Brad apertou as mãos em meus braços e me puxou até a calcada da rua deserta, a única coisa que iluminava era um poste. Eu iria levar uma bela surra agora. 
— Brooklyn, você é uma vadia. E o pior, é uma vadia estúpida. — Disse com o rosto próximo ao meu.
E ele me beijou.
Ele enfiou sua língua na minha boca sem me dar espaço para negar tentei empurrar seu corpo mas ele apenas jogava todo seu peso em cima do meu. Aquela era a pior sensação da minha vida. Brad tirou seus labios dos meus e disse ao pé do meu ouvido. 
— Eu irei te pagar pela bolsa, de uma maneira muito, muito divertida para mim, gatinha.

Nessa hora meu corpo parou, meu coração batia a mil por hora e meus olhos estavam completamente inundados.
— Brad, por favor não! — Implorei. — Fique com a bolsa, fique com tudo que está dentro dela, mas me deixe sair por favor. — As lágrima molhavam todo o meu rosto e eu soluçava como um bebê. Brad riu do meu desespero.
E sem mais nem menos ele chutou com força minha perna fazendo com que eu gritasse de dor e caísse sentada em sua frente. Ele desbotou sua calça preta e puxou meus cabelos com força fazendo com que eu me ajoelhace, ele puxava além do necessário apenas para ouvir meus gemidos de dor.
— Abre a boca.— Neguei imediatamente. — Eu mandei você abrir a boca. — Tornou a repetir. 
— Brad, não! — Senti as lágrimas caírem. Sem nenhuma paciência Brad serrou os punhos e me deu um soco que fez com que minha cabeça batesse na parede com tanta força que eu fiquei tonta, com a visão escura, ele apertou meu maxilar me obrigando a abrir a boca e nessa hora ele colocou seu membro dentro dela.
Ele pegava minha cabeça com força fazendo movimentos de vai em vem enquanto eu me engasgava.
E Brad pareceu ter uma ideia ainda pior. Ele apertou meu nariz e empurrou minha cabeça, fazendo assim, com que eu não tivesse como respirar. Comecei a me debater tentando me soltar.
— Você é péssima Brooklyn.— Em meio a risadas debochadas, Brad empurrou minha cabeça para longe enquanto eu tossia desesperadamente tentando controlar minha respiração
E então ele começou a tirar a minha calça. Eu não conseguia mais parar de chorar. 
Quando senti suas mãos geladas sob o tecido da minha calcinha meu desespero aumentou.
— Socorro! — Gritei tão alto que até eu me impressionei — Socorro, socorro! Alguém me ajuda. 
— Cala a boca, porra. — Brad me deu um tapa na cara. Mas ele precisaria de mais do que isso para me fazer parar.
— Socorro! Por favor, aqui! Alguém me ajuda. 
Brad chutou meu corpo e eu gritei. 
— Vou te dar uma lição. Agora você terá motivos para gritar.
Ele rasgou minha calcinha e a jogou longe.
Meu coração parou.
— Ei! O que é isso? — Uma voz totalmente desconhecida surgiu. 
— ME AJUDA! SOCORRO! EU ESTOU SENDO ABUSADA. — Gritei eufórica falava rápido e com a voz embriagada pelo choro. 
— Qual é cara?! Solta a garota.—Ele começou a se aproximar de nós.
— Sai daqui cara, é só uma mendiga. Arrume uma puta para você.— Brad disse para o homem.
O garoto por hora ignorou Brad, puxou pela gola da camisa fazendo com que ele saísse de cima de mim. 
— O que pensa que está fazendo? — Ele estava visivelmente irritado. Brad iria partir pra cima dele, se o cara não tivesse dado um soco certeiro em seu nariz. O traficante cambaleou para trás. 
Aproveitei essa hora para colocar minhas roupas e pensar em como fugir de lá. 
— Qual seu problema? — Brad gritava. — Você por acaso sabe quem eu sou?
— Não, e isso só prova que não tem o mínimo de importância. — O garoto respondeu, sua voz era rouca e serena, e mesmo irritado após os gritos de Brad ele permanecia controlado. — Agora da o fora daqui, se não quiser apanhar.
— Você vai se arrepender de ter tocado em mim. Sabe que eu vou te matar?! Não é mesmo? 
— Eu pago para ver. Para facilitar, meu nome é Justin Bieber, boa sorte. — A ironia em sua voz me fez esboçar um sorriso. Tudo que ele dizia era impactante, sem chance de resposta.
Ao ouvir passos se afastando eu finalmente pude respirar aliviada. Peguei a bolsa e me levantei e logo uma silhueta apareceu em minha frente. 
— Muito obrigada. De verdade. — Nunca gostei de chorar na frente das outras pessoas, mas era inevitável.
— Tudo bem, não foi nada. De onde você é?
— Bronks. — Engoli o choro e só ai reparei no garoto a minha frente.
Uma face angelical. Lábios bem desenhados, cabelos loiros em um topete mal feito e olhos num tom de mel. Ele era bem alto e parecia forte. Estava usando uma calça jeans escura e um suéter preto maravilhoso.
Ele era um dos homens mais bonitos que eu já havia visto.
— É bem longe. — Riu sem graça, fiz o mesmo.
— Er, obrigada de novo, acho que já vou indo. Tchau. — Virei meu corpo na intenção de ir embora. 
— Como você pretende chegar em casa?
— Na verdade nem eu sei. Tento a sorte, uma hora eu chego.
— Não vá. Você pode ficar em minha casa. Sei que parece estranho, mas seu bairro é muito perigoso a essa hora da noite. E provavelmente irei me sentir culpado o restante da noite se você não aceitar. — Ele falava de maneira calma, dava para sentir sinceridade em sua voz. Mas entrar na casa de um desconhecido não parece muito inteligente. 
— Agradeço muito, de verdade. Mas não sei se deveria. 
— Insisto. Você parece ser quase uma criança, é perigoso ficar na rua a essa hora da noite. Pela manhã eu posso te levar até lá, aquele garoto ainda está por aqui.
Só de pensar na hipótese de ver Brad novamente sentia meu corpo se arrepiar. Desde que estou nas ruas, minha vida não vem sido nada fácil mas eu nunca imaginei ser estuprada, me sentia suja e meu estômago embrulhava só de imaginar aquilo acontecendo novamente. 
— Tudo bem —  Ainda estava receosa, mas o que eu tinha a perder a final?
— Ótimo.— Ele sorriu, seu sorriso era tão lindo quanto o resto.— Acho que esqueci de dizer. Meu nome é Justin Bieber.
Estendeu sua mão.
— Brooklyn. — Sorri, e apertei sua mão.